2 de setembro de 2009

Da ponte pra cá.

Bom, nem sei por onde começar, as cenas observadas há poucos minutos, se misturam e divagam na minha cabeça.
Se olhar as chamadas do meu celular está marcado a hora do início da tormenta, 19h40min.

19:40, neste instante toca meu celular, era um amigo que cursa Comunicação Social comigo na Uniabc me perguntando onde eu estava, disse que estava parado na favela do Heliópolis em virtude de uma manifestação e pedi para ele informar à professora que eu chegaria um pouco mais tarde.
A tensão aumenta, me lembro que hoje faz 70 anos que as tropas de Hitler invadiram a Polônia, o trânsito parado, alguns moradores avisam para deixarmos o ônibus, pois eles (os manifestantes) ateariam fogo se continuássemos. O cobrador tratou de pegar suas coisas, o dinheiro do caixa e ficar preparado, o motorista queria seguir. Ficamos a uns 3 metros do fogo já iniciado em meio à avenida, até que me levantei e disse a senhora que estava comigo no ônibus, "vamos descer", pedi umas três vezes ao motorista para abrir a porta na proximidade do ataque.
Não mais que sessenta segundos uma salva de pedras, correria, talvez até tiros não sei, só conseguia pensar no meu filho e prometer com a força do pensamento que em breve estaríamos juntos.
Fiz as ligações que julguei necessárias ajudei a reformular o transito para que os carros voltassem pelo viaduto da Av. Almirante Delamare, me lembro de uma garota que dizia a bordo do seu carro, "mas eu moro lá, eu preciso ir", lhe disse, se eu fosse você não iria.
Voltei e aguardei do outro lado o desfecho.

Para aqueles que não conhecem, ouçam a música do Racionais MC'S - da ponte pra cá, e compreenderão o mundo real.
Nos Jardins dizem que a Rota vai pra rua, casas de secretários de governo sendo assaltados, enquanto isso no Heliópolis, o Choque, e todo mundo sabe, quando o choque vem, é choque mesmo.
É bala de borracha, cacete, cassetete, bomba de efeito moral, afinal, imoral é situação caótica que nos encontramos.
O mundo é diferente da ponte pra cá, onde falta o estado o poder paralelo dita as regras, ouvi informalmente de alguns moradores que a polícia não tinha que ir à favela dar tiro, que a guarda de São Caetano estava errada e etc. Não estou aqui para julgar, nem tenho essa função, porém sempre que morre um inocente a culpa é da polícia, a bala perdida ou tristemente encontrada, no primeiro juízo é sempre do policial.
Conforme informações apuradas pela rede Globo, houve distribuição de panfletos convocando a comunidade e oferecendo cestas básicas para aqueles que aderissem, não sei se é verdade ou folclore, mas o fato é que presenciei a batalha.
O mundo é diferente da ponte pra cá, de um lado a melhor cidade do País em qualidade de vida, a maior renda per capita, do outro, a maior favela do estado.
De um lado belos bares, lindos carros, hospitais públicos, e relativa segurança, do outro, seres humanos nas mais indignas condições de vida e subserviência.

E aí "otoridade", o que fazer?
Robin Hood? Tiro dos ricos e dou aos pobres? Ou tiros de escopetas né?
Talvez a primeira parte já até se faz, agora e a segunda? Através dos impostos os mais ricos estão sendo apertados pelo Estado, e o Estado, o que faz pelos mais pobres?

Até quando o choque terá que entrar em ação? Quantas vezes mais eu, o José, a Maria, o João, teremos que parar nossa viajem no meio para que “educadamente” seja ateado fogo no ônibus que estou ou no carro ao lado.
Acho que está na hora de conhecer o outro lado da ponte.


Ainda dentro do ônibus, por enquanto só trânsito

Carro do serviço funerário à frente do ônibus.

Primeira visão ao sair do ônibus.

O ônibus após o incêndio.

Repórter Fotográfico da Folha faz cobertura online.


Chegada do Choque


Bombas


Mais bombas

Óbviamente peço desculpas pela falta de qualidade das imagens.

Comentário de Bóris Casoy após mais uma das metáforas de Lula, sobre a mãe Petrobrás ou Petrosal, sei lá:
"Tem gente que gosta tanto dessa mãe que é o Estado Brasileiro e passa a vida inteira mamando nessa teta"

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