13 de dezembro de 2009

A coragem covarde de Jiló, suicídio ou libertação?

Jiló era um cara interessante, inteligente, introspectivo mas se comunicava muito bem.
Mas, como todo mundo Jiló também tinha problemas, desempregos, desamores, devaneios.
Quem via Jiló enxergava uma fortaleza, frio, cético, eloquente. Na verdade era só fachada.
Jiló, que teve esse apelido exatamente pela sua quietude, as pessoas o achavam ogro, amargo, na verdade era um coração que não cabia no peito. Amante das mulheres? Sim, muito, porém seu coração tinha uma dona, aquela que representava os mais de vinte anos que ele esperou para amar verdadeiramente uma mulher.
Como Jiló era introspectivo, quieto, muitas vezes não demonstrava tanta sentimentalidade, esse grande amor se retratou também no filho que tiveram.
A vida de Jiló era a mulher e o filho, porém, os atalhos levam muitas vezes por caminhos desconhecidos.
Com algumas idas e vindas nesse relacionamento, talvez por imaturidade de ambos, teve um dia que foi só ida. A distância do grande amor, o amor pelo filho distante consumia dioturnamente Jiló.
Os pensamentos iam, os pensamentos vinham, a lágrima caia, o ódio subia.
Jiló cada vez mais calado, se falava pouco, agora fala quase nada.
Era um domingo, chuvoso, aquele dia frio de sentimento, tipo finados. Jiló que chegara de madrugada, havia ido numa roda de samba na noite anterior, sem nada premeditar, foi, reencontrou amigos, bebeu, fumou, cantou. Pelos idos da madrugada Jiló como sempre fazia, não se despediu de ninguém e deu aquela saída à francesa, que lhe era tão peculiar.
Naquela madrugada caminhou por três horas, muitos pensamentos, muitos devaneios, muita loucura.
Chegou em casa, deitou e dormiu.
Ao amanhacer, Jiló tomou seu café, leu uma ou outra notícia, sentou-se frente o computador e começou escrever. Durante trinta minutos Jiló se preocupou em enviar e-mails a algumas pessoas.
Aproximando a hora do almoço, Jiló viu todos irem almoçar, levantou-se da mesa do computador, beijou uma foto do seu pequeno filho, passou na sala, deu um beijo em sua mãe, coisa que normalmente não fazia.
Saiu.
Jiló não voltou mais.
Uma ponte, um salto e a separação de corpo e alma. Talvez ali, Jiló estava liberto. Acabou com seu sofrimento e criou alguns outros pra aqueles que ficaram.
Nas cartas enviadas por e-mail, a explicação da importância de cada um na sua vida. Talvez só naquela hora, decidido àquela atitude que muitos julgam covarde, Jiló teve coragem de dizer a todos os sentimentos que nutria.
Na frase final da carta à ex-mulher Jiló sintetiza suas angustias "levaste o que de mais importante havia pra mim, agora levo o que de mais importante havia em mim".
Valeu Jiló. Adeus.

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